quarta-feira, abril 13

O que muda se o iPad for montado no Brasil? Quase nada!

Depois de muita especulação e boatos sobre a produção de produtos da Apple no Brasil, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou na última terça-feira que a Foxconn irá começar a montar no Brasil o tablet iPad até novembro. A empresa taiwanesa monta os produtos da Apple na cidade chinesa de Shenzhen e já possuiu fábricas no Brasil, em Manaus e também em Jundiaí e Indaiatuba, ambas em São Paulo. De acordo com a Folha de S. Paulo, componentes do iPad já estariam a caminho do Brasil. Mas o que isso significa?

Primeiro, é absolutamente improvável que a Apple vá ter uma fábrica no Brasil. A Apple não possui nenhuma fábrica para produzir seus produtos: eles são criados pela empresa, mas os componentes são feitos por diversos fabricantes e depois montados por companhias terceirizadas como a Foxconn. A empresa americana também não mudou sua razão social no Brasil para incluir a categoria indústria. O registro noticiado como prova dessa mudança é de uma outra empresa chamada Apple, fundada em 1983, enquanto as operações da Apple no Brasil só começaram em 1995.

A Foxconn, uma empresa terceirizada que monta iPads na China, resolver montar iPads no Brasil não garante que os tablets vão chegar ao mercado brasileiro como produtos nacionais, nem que o Brasil vai ter prioridade. Não é o que acontece na China, pelo menos: os produtos saem da Foxconn e vão para os Estados Unidos, onde são empacotados, armazenados, distribuídos e vendidos pela Apple. A empresa decide quando iPads e iPods vão ser lançados em outros países. Quando chega sua vez, a China importa os produtos que montou.

O primeiro iPad, lançado nos Estados Unidos em abril de 2010, e o iPhone 4, que já era vendido no Japão em junho, só chegaram oficialmente à China em setembro. É verdade que os aparelhos da Apple lá - embora mais caros que nos EUA - são mais baratos que no Brasil (um iPad primeira geração de 32Gb sem 3G sai por R$ 890 na China, contra R$ 1.700 no Brasil), mas o imposto de importação de eletrônicos chinês, que era de 20%, caiu para 10% em janeiro, enquanto o nosso continua perto dos 60% (essa é a alíquota para quem faz compras no exterior, para quem importa grandes quantidades são vários impostos que podem totalizar até mais de 60%) . E as taxas se aplicariam ao iPad, um produto importado dos EUA, mesmo que viesse impresso na carcaça made in Brazil.

Impostos, inclusive, são a principal crítica da Apple contra o Brasil. Por conta dos impostos, a empresa americana nunca abriu no país uma Apple Store - lojas controladas pela própria companhia. Na China há quatro, com planos de expansão. O governo brasileiro, por outro lado, está querendo dar incentivos e diminuir impostos de tablets produzidos aqui. Vender produtos diretamente no Brasil seria então uma forma de chegar ao mercado nacional. Mas isso seria um passo fora do caminho tradicional da Apple, acostumada a centralizar ao máximo possível a distribuição de seus produtos.

O mercado brasileiro não é nenhum gigante: 65 mil iPads foram importados para cá em 2010, contra mais de 450 mil para a China. De acordo com a consultoria IDC, o mercado de tablets no Brasil em 2011 deve ser de 300 mil aparelhos enquanto os chineses vão comprar 2,5 milhões. A pergunta é: será que a Apple vai abrir para o Brasil uma exceção em sua rígida forma de produção que não abriu nem para a China? Mas digamos que a Foxconn monte o iPad no Brasil e que ele chegue ao mercado como um produto nacional. O preço vai mudar muito? Não tanto. A maior parte dos componentes necessários para montar o iPad vai continuar sendo importada - alguns deles da China - e embora o imposto não chegue aos 60%, também não é baixo. A Samsung, por exemplo, fabrica o seu tablet Galaxy Tab no Brasil e nem por isso o aparelho é super barato: sem descontos de operadoras, é mais caro que o iPad.

De acordo com Mercadante, ainda há vários detalhes que estão sendo discutidos no acordo com a Foxconn.  Em algum momento - iPads sendo montados aqui até novembro ou não - deve ficar óbvia a posição da Apple nessa parceria que parece ser apenas entre o governo brasileiro e a Foxconn. A assessoria da Apple se mantem quietinha até então.

Claro que há pontos positivos na montagem de iPads no Brasil: os empregos que seriam gerados. Ainda não se sabem quantos. A Foxconn fala em 100 mil funcionários (dos quais, 20 mil engenheiros e 15 mil técnicos) para o tablet da Apple e outros equipamentos. O resultado prático mais importante do encontro entre a presidente Dilma Rousseff e executivos da Foxconn parece ser esse projeto mais amplo (não apenas a produção do iPad), manifestado na intenção da empresa de investir US$ 12 bilhões em até 5 anos no Brasil.

Enquanto isso, na China... 

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